terça-feira, 13 de novembro de 2012

Reprodução Humana: Seleção genética ajuda bebês a nascerem com saúde perfeita


Objetivo é evitar transmissão de doenças hereditárias. No Brasil, seleção genética segue normas rígidas determinadas pelo Conselho Federal de Medicina.

Na Inglaterra, a seleção genética, escolha do embrião que será implantado no útero da mãe, mudou a história de uma família traumatizada pela perda de um filho. 

Um menino às vezes dorminhoco, às vezes, comilão, mas sempre um xodó. E como gosta de colo. Ele veio ao mundo há 10 semanas para devolver a alegria ao casal Nicky e Neil Halford, moradores de uma cidadezinha a 250 quilômetros de Londres. Papai e mamãe sonhavam com essa criança. Um bebê que foi desenhado em laboratório para nascer com a saúde perfeita. 

O nome dele é Tom - aliás, nome escolhido por Ben - o irmãozinho que Tom jamais vai conhecer. Ben morreu em 2010, logo depois de completar 5 anos de idade. Ele teve um câncer no cérebro, resultado de uma doença rara que herdou da mãe. 

Nicky, de 36 anos, explica que é portadora da Síndrome de Li-Fraumeni, uma doença hereditária, que faz aumentar a predisposição ao desenvolvimento de tumores malignos antes da terceira década de vida. 

Ela própria teve câncer nos seios aos 21 anos de idade e se curou, sem saber que a doença tinha sido causada pela Síndrome de Li-Fraumeni. Tanto que engravidou de Ben. A morte dele mudou a história da família Halford. 

A primeira ideia do casal foi jamais ter outro filho para não correr o risco de passar a síndrome adiante e repetir o pesadelo. Mas havia uma alternativa que não dependia da natureza: a seleção de embriões fertilizados em laboratório. Depois de sete tentativas durante um ano, os cientistas conseguiram identificar um embrião sem a presença do gene maligno. Esse embrião saudável foi implantado no útero de Nicky. E foi assim que nasceu Tom, totalmente livre da síndrome. 

“Ben era nosso filho querido e sempre estará em nossas doces lembranças, mas não seria justo carregarmos luto pra sempre. O caminho para o nascimento de Tom foi ensinado por Ben”, conta a mãe. 

Tom nasceu dois anos depois da morte de Ben. O risco de algum dia ele também ter um tumor igual ao que matou o irmãozinho é de apenas 4%. Seria de 50% se não fosse o milagre da ciência. Tom é saudável e os pais estão felizes. A morte de Ben não foi em vão. 

O laboratório fica em Londres. A doutora Sioban Sengupta, diretora do centro de pesquisas genéticas, explica que a ciência reduziu a níveis normais, como o de qualquer pessoa, a probabilidade de Tom ter câncer no futuro. 

''Não seria ético e nem legal, no caso da Grã-Bretanha, fazer escolha de sexo, cor dos olhos e outras aberrações. Mas, quando a ciência pode salvar ou prolongar vidas, pecado é não usá-la”, afirma Sioban. 

A técnica usada na Inglaterra para o nascimento de Tom existe no Brasil. Chama-se "diagnóstico genético pré-implantação". E é capaz de analisar todos os 23 pares de cromossomos de um embrião. Os médicos examinam o DNA de uma única célula do embrião. 

“Nós aumentamos esse DNA exponencialmente em milhões de vezes, chega a ser bilhões de vezes para poder proceder as diversas análises”, explica o geneticista Péricles Hassun Filho. 

Depois, as informações sobre a existência ou não da doença congênita são discutidas entre a clínica de reprodução e os pais. 

Ivan é portador de um mal hereditário que ataca o fígado e passou por um transplante. Quando decidiu ser pai, buscou um embrião selecionado em laboratório, livre do gene que dispara a doença. Nasceu Lucas, hoje com 2 anos. 

“No momento da gravidez o que mais nos confortou foi saber que a gente tinha eliminado essa doença. O risco de ele ter a doença é 0,0...%, percentual muito pequeno, porque, por mais que a ciência esteja avançada, não te dá garantia de 100%”, conta Ivan. 

No Brasil, a seleção genética segue normas parecidas com as da Inglaterra. O objetivo é sempre o de detectar problemas de saúde. A resolução do Conselho Federal de Medicina é clara: “Toda a intervenção sobre embriões in vitro, com fins diagnósticos, não poderá ter outra finalidade que não a de avaliar sua viabilidade ou detectar doenças hereditárias”. 

Eduardo Motta é especializado em reprodução assistida. “Existiria um questionamento ético se nós não estaríamos selecionando por demais os embriões. No meu ponto de vista, esse é um avanço da ciência em prol da saúde humana, e não contra a saúde no sentido de fazer essa seleção com intuito de ter um indivíduo melhor habilitado”, afirma o ginecologista Eduardo Motta. 
Tom e Lucas são tudo que os pais sonharam: dois meninos felizes e saudáveis, como qualquer outra criança. 

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